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A sogra

Conto Recomendado Para Maiores de 18 Anos.

A vida é um jogo e não adianta nos recusarmos a jogar. Às vezes achamos que nada irá mudar nossos planos, que somos donos dos nossos sonhos, que o que planejamos tem que seguir de acordo com a nossa vontade. Mas na verdade, não sabemos de nada, as coisas fogem do nosso controle quando menos esperamos.

E esse conto expressa isso.

Marielza morava em um bairro popular, onde as pessoas tinham mais ou menos o mesmo padrão de vida. Ela trabalhava em um salão de cabeleireiro no bairro, e trabalhava muito para que o único filho pudesse estudar. Cleber era muito inteligente, fazia engenharia mecânica, passou para a Universidade Federal da cidade, sem fazer cursinho, pois isso estava fora do orçamento da família. E mesmo com algumas coisas contra, ele ia estudando.

A Unidade Básica de Saúde do bairro estava cadastrando os moradores para o Programa Saúde da Família, como naquele dia Cleber não teria aula, foi acompanhando sua mãe. Tinha muitas pessoas, a fila estava grande, mas eles resolveram esperar.

Em determinado momento, Marielza notou que ela e Cleber estavam sendo observados insistentemente por uma enfermeira ou médica, não dava pra saber, pela distância entre eles.

Isso durou até acabar o cadastro. A pessoa conversava com os funcionários do posto de saúde, mas sempre desviava o olhar para observá-los.

Dias depois ela foi visitada pela agente de saúde e pela Dra. Roselene, a médica responsável por aquela área e por quem foi observada dias antes.

Dra. Roselene era muito agradável, um amor. Marielza logo gostou dela.

Depois dos quarenta anos parece que as doenças se juntam para atacar as pessoas, e Marielza foi diagnosticada com diabetes, hipertensão e o colesterol também estava um pouco alto. Então ela seria acompanhada pela Dra. Roselene periodicamente. E essa visita foi para que ela conhecesse os pacientes.

Na primeira consulta da Marielza, Dra. Roselene, foi muito atenciosa e em determinando momento ela perguntou por Cleber. Na verdade foi mais um questionário, ela queria saber o curso que ele fazia, onde trabalhava se tinha namorada. Ela respondeu com naturalidade, como se fosse normal a médica que cuidava dela se interessar pela vida de seu filho.

O interesse dela por Cleber, não como médica, mas como mulher, era visível. E Marielza pensou:

Isso vai me dar dor de cabeça.

Os meses foram passando e um dia Cleber chegou em casa com a novidade, iria apresentar a namorada. Marielza ficou muito feliz, pois sempre dizia pra ele que sua nora seria a filha eu ela não teve.

Enquanto ele foi busca-la, Marielza ficou na expectativa, mas não sabia o que sentiu quando a viu entrar. Era uma mistura de surpresa, pois não pensou que aquilo fosse realmente acontecer. De preocupação, por eles, e de alegria, porque sinceramente, ela gostava dela.

-Mãe esta é a minha namorada.

-Dra. Roselene!

-Olá Dona Marielza, a senhora está bem? Disse a Dra. Meio sem jeito.

-Confesso que estou surpresa, mas fique a vontade Dra., senta aqui.

Com ar de preocupação Marielza continuou.

-Há quanto tempo vocês estão namorando?

Cleber respondeu.

-Há dois meses mãe, não é legal.

-Sua família sabe disso Dra.? Eles sabem que o Cleber é mais novo que você, que é negro, que vocês são de classes sócias diferentes? Fez uma pausa e continuou.

-Nós Dra. Vivemos num país, hipócrita, preconceituoso, racista. Sinceramente eu acho que o amor não tem idade. Vivemos num país de miscigenação. E com relação à classe social, o Cleber é muito inteligente e vai chegar longe quando se formar. Mas e a sua família, eles concordam com isso?

Roselene estava nervosa, porém respondeu com naturalidade.

-Meus pais morreram quando eu era criança, fui criada pelos meus avôs que também já faleceram e pelo meu tiozão, que é muito legal e continua cuidando de mim. Ele não mora aqui, mas tenho certeza que ele irá gostar muito de vocês.

-Bom nesse caso, que o namoro de vocês seja uma benção. Posso de dá um abraço, amei ter você como nora. Disse Marielza com o maior sorriso.

O tempo passa muito rápido quando as pessoas estão felizes, mas nada dura para sempre, dias depois Marielza foi ao posto de saúde consultar com a Dra. Roselene. Depois da consulta foi até a recepção e estava na fila aguardando sua vez, quando entrou um homem alto forte, bronzeado pelo sol. Aparentava ter uns 45 anos, parecia alguém que vivia em paz com a natureza.

Foi até a recepção e perguntou pela Dra. Roselene, foi até o consultório indicado e como ela estava com paciente, pediu a ele que esperasse um pouco na recepção.

Ele parecia zangado, olhou em volta, pegou o celular o olhou por uns minutos e depois, com as feições bem amarradas veio em direção à recepção, parou em frente à Marielza e começou a ofendê-la.

Ela nunca o tinha visto, ele não a conhecia, pensou em dizer que aquilo era engano, mas antes que ela pudesse abrir a boca, ele começou a insultar seu filho, ai o sangue ferveu. Ser ofendida ela relevava, mas insultar seu filho que lutava muito para ser alguém na vida, ah, isso não! E a discussão ficou feia.

-O Senhor. Está pensando o que? Eu sou pequena, mas não sou pedaço. O Senhor é grande, mas não é dois. Se apontar mais uma vez o dedo pra mim, vai ficar sem ele. E se continuar a me ofender e ao meu filho, a coisa vai feder. Eu apanho, mas o senhor não ficará ileso.

Ele estava furioso com a atitude de Marielza, e ao mesmo tempo surpreso.

Os médicos e pacientes que estavam nos consultórios saíram para ver o que estava acontecendo.

A recepcionista ia ligar para a viatura da guarda municipal que ficava no bairro, quando a Dra. Roselene que tinha terminado a consulta, interveio.

-Pode deixar Carla, eu resolvo isso. Pediu desculpas a Marielza e levou o senhor para seu consultório.

-Tio que absurdo foi esse? Isso aqui é um posto de saúde, meu local de trabalho. Por que o senhor estava ofendendo a mãe do meu namorado?

-Você ainda pergunta? Olha a situação daquela gente. Você não foi educada para se envolver com esse tipo de gente. Rose, aquela mulher é grossa, sem educação. É um absurdo que você queria aquele tipo de gente como família.

-Tio ela só se defendeu, você ofendeu ela e ao filho. Como você queria que ela reagisse?

-Ela me afrontou, me encarou e me chamou para briga. Sou contra o seu relacionamento com o filho dela. O que vai sair dessa união, me diz?

-Tio o senhor está muito nervoso. Quando conhecer melhor a dona Marielza e o Cleber, tenho certeza que vai mudar de ideia. A final o senhor não é assim, preconceituoso.

-Eu me recuso a estar no mesmo ambiente que aquela mulher.

Como havia acabado suas consultas pela manhã, Dra. Roselene saiu com o tio. Ao passar pela recepção Marielza já tinha ido embora, o Senhor pediu desculpas a recepcionista e alguns pacientes que ainda estavam aguardando na recepção, pelo transtorno. Dra. Roselene se despediu de todos e saíram.

As pessoas que presenciaram a cena concordaram que o senhor por algum motivo, deveria estar muito nervoso, pois agora ele se portava de forma educada e era até simpático.

Foi impossível apresentar Cleber ao tio, ele se recusava a recebê-lo e muito menos a mãe. E Roselene achou melhor não insistir, com o tempo acabaria convencendo-o como sempre o fizera.

Após um ano de namoro Roselene e Cleber resolveram se casar.

Durante esse período Ricardo, o tio de Roselene não teve como fugir daquela realidade e ao conhecer Cleber gostou da sua determinação, da sua segurança, era um bom rapaz. Desenvolveram uma amizade sincera e duradoura. Porém com relação à Marielza a situação só piorava. Ele a achava petulante, atrevida. Contudo pelo bem de todos iria suportá-la, afinal não a encontrava sempre.

Para o noivado da sobrinha resolveu dar uma festinha na sua fazenda no fim de semana. Os três foram e Roselene levou alguns convidados.

Apesar de a fazenda Bartholomeu Zedhar ser uma propriedade muita antiga, era muito bem cuidada. Foi comprada pelo bisavô de Ricardo, no fim do século XIX e estava com a família desde então.

A fazenda na administração de Ricardo havia prosperado muito, seu avô e seu pai eram fazendeiros conservadores, não tinham uma visão ampla. A fazenda era de gado de corte, mas Ricardo depois de realizar algumas pesquisas chegou à conclusão que o gado leiteiro era a melhor opção, além dos hortifrúti.

Desenvolveu uma rede de distribuição para os produtos que incluíam distribuidores, atacadistas especializados em laticínios e hortifrúti.

Era a primeira vez que Marielza visitava a fazenda e ficou encantada. Havia recusado vários convites de Rose e Cleber para o fim de semana, contudo aquela era uma ocasião em que não podia dizer não. E a surpresa foi muito boa.

O dia foi muito bom e a noite melhor ainda. Já era tarde quando sem sono Marielza foi até a varanda e ao passar por uma janela que estava aberta parou chocada.

CONTINUA


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